2 de Setembro de 1967
Nós, Liberais de vinte países, reunidos em Oxford para o vigésimo aniversário do Manifesto Liberal e da fundação da Internacional Liberal:
- Reafirmamos a nossa fé nos princípios do liberalismo como definidos no Manifesto Liberal;
- Celebramos a inclusão destes princípios nas declarações das Nações Unidas e a sua incorporação nas constituições de muitos novos estados soberanos;
- Declaramos, à luz destes princípios, a nossa opinião ponderada, sobre os desenvolvimentos nos últimos vinte anos.
A Tarefa Liberal na Presente Revolução nas Relações Humanas
- A revolução que tem vindo a alterar o rumo das relações humanas durante os últimos séculos ganhou e continua a ganhar cada vez maior força e importância.
- O ritmo cada vez mais acelerado de mudança tecnológica e cientifica, a cibernética e a automação, a conquista – para a paz e para a guerra – da energia nuclear, os meios de comunicação em massa, a explosão demográfica, a revolução nas expectativas de qualidade de vida e de serviços públicos, o desenvolvimento mundial de uma ordem industrial que substituiu uma sociedade rural e estática, o alcançar da independência por muitos povos – tudo isto abriu novas possibilidades para o progresso humano. Simultaneamente, num mundo em que existe uma divisão cada vez maior entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos oprimidos pela fome e pela pobreza, onde a supressão da liberdade, a discriminação, e o nacionalismo agressivo prosperam, foram dados novos impulsos no caminho da concentração de poder, opressão e destruição, numa escala que o mundo nunca antes soubera ou imaginara.
- A tarefa fundamental do nosso tempo é dominar todas estas novas forças e colocá-las ao serviço da humanidade. Os meios para as guiar não são materiais, mas assentam no desenvolvimento progressivo de sociedades livres, constituídas por cidadãos esclarecidos e responsáveis, adequadamente protegidas pelos seus esforços comuns contra o medo, a necessidade e a opressão, seja ela interna ou externa. Contudo, estas sociedades livres apenas conseguem nascer e manter-se, através de uma devoção incessante aos princípios do Liberalismo.
Descentralização e Liberdade
- A cooperação e a solidariedade entre homens livres é uma necessidade crescente no mundo moderno. Contudo, o rumo para uma centralização pouco saudável, tem encorajado o degradamento das instituições parlamentares, a excessiva dependência do indivíduo face ao Estado, o crescimento de novas formas de absolutismo e de centros de poder irresponsáveis, devido a um crescimento burocrático descontrolado, à formação de monopólios públicos e privados e à formação de organizações de carácter restritivo, de empregadores, trabalhadores, ou mesmo de ambos.
- Acreditamos que estas tendências podem somente ser combatidas pela concentração clara e decidida na indiscutível necessidade de liberdade em todos os seus aspectos, e em particular por:
- uma maior dispersão e distribuição do poder no campo económico, social e político, especialmente através de acções determinadas contra os monopólios;
- garantir a mais vasta pluralidade de expressão e iniciativa em tudo o que esteja relacionado com educação e a cultura, incluindo os meios de comunicação social;
- disponibilizar livremente toda a informação necessária para que os cidadãos possam formar julgamentos objectivos em todas as matérias de interesse público;
- a protecção dos direitos das minorias, de forma a que gozem das liberdades essenciais de acordo com o que foi descrito no Manifesto Liberal;
- a eliminação da discriminação racial e de qualquer outra forma de discriminação opressora;
- a protecção do indivíduo e dos grupos, face a todas as formas de invasão abusiva e não autorizada da vida pessoal privada, nomeadamente a que utiliza meios mecânicos.
Política económica e Planeamento
- Acreditamos na necessidade por parte dos governos, de planeamento das suas actividades económicas, com a condição que tal planeamento não seja usado para sufocar a autonomia do sector privado, nem o mecanismo de auto regulação dos preços, que exige por sua vez a manutenção da livre concorrência. Estes elementos são fundamentais para garantir o desenvolvimento económico, para tirar o máximo partido da produção e do consumo, e por isso, para garantir em todas as nações, os bens e serviços necessários para o progresso social.
- Acreditamos que a sociedade tem uma responsabilidade especial na protecção dos recursos naturais, dos tesouros culturais e da beleza das cidades e do campo face ao desenvolvimento indiscriminado, seja ele ditado por interesses públicos ou privados.
- Uma população em constante crescimento exige um aumento desproporcionado do consumo provocando assim inflação, e devido à instabilidade monetária que esta gera, coloca em perigo os benefícios sociais, económicos e o progresso. Numa sociedade livre isto só pode ser evitado através de um sistema de restrições voluntárias, tanto por parte do Estado, como de todos os grupos sociais. Os esforços destinados a atingir este objectivo devem gozar de alta prioridade em todos os países.
Cooperação Económica Internacional
- Acreditamos na necessidade da livre circulação de pessoas, bens, capitais e serviços, assim como na divisão internacional de trabalho e na cooperação internacional, de âmbito mais amplo possível, para as questões monetárias, sociais e tecnológicas.
- Defendemos os grupos económicos regionais, desde que estes não se transformem em instrumentos de proteccionismo regional ou de exploração económica de uns países por outro país e que não degenerem em tecnocracias-burocráticas operando fora do controlo do sistema democrático.
Igualdade e Qualidade de Vida
- Acreditamos que uma parte substancial do aumento da riqueza deveria ser usada para promover a igualdade de oportunidades, tanto para indivíduos como para as nações de todo o mundo.
- Para o indivíduo, isto envolve a protecção face aos riscos de doença, desemprego, deficiência e velhice, e ao direito a uma habitação adequada.
- É também necessário proporcionar formação com a melhor qualidade possível, para a educação física, intelectual, humanista e técnica, a todos os cidadãos, independentemente da sua origem e meios financeiros. Com este objectivo, desejamos a maior variedade possível de escolha de sistemas educacionais, desde que sujeitos a requerimentos mínimos académicos de qualidade e que assegurem a educação de cidadãos livres e responsáveis.
- Isto também envolve a necessidade de combater o sentimento de alienação nos trabalhadores, dando-lhes o direito de participar responsavelmente na gestão, estabilidade e desenvolvimento das empresas nas quais trabalham e oferecendo-lhes a possibilidade de adquirirem participações financeiras nas mesmas.
- O Planeamento familiar deve ser facilitado, respeitando-se contudo a responsabilidade e liberdade de escolha individual dos casais.
- Internacionalmente, isto envolve, por parte dos países industrializados, uma política de comércio liberal que tenha em consideração as necessidades especiais dos países mais pobres do mundo e o fornecimento de assistência financeira e técnica, como forma de apoio no estabelecimento de sistemas educacionais e de segurança social, na criação das infra-estruturas necessárias para a expansão económica e no avanço do desenvolvimento agrícola e industrial.
- Acreditamos que a ajuda às regiões mais pobres não deve ser dada por motivos políticos egoístas ou por motivos económicos. Insistimos na necessidade da cooperação com as autoridades e os habitantes das áreas, tendo como objectivo o desenvolvimento do seu sentido de liberdade, iniciativa e responsabilidade. Tendo estes mesmos objectivos em vista, acreditamos ser necessária uma coordenação de proximidade entre as agências governamentais, empresas privadas e organizações não governamentais.
Paz e Liberdade
- Acreditamos que, independentemente das suas limitações presentes, a Organização das Nações Unidas, baseada em princípios liberais democráticos e no desenvolvimento de um ethos internacional, merece o apoio dos povos de todas as nações, como forma de a transformar numa autoridade mundial, com funções claramente definidas e poder efectivo, capaz de fazer cumprir a lei nas relações internacionais.
- Acreditamos que o interesse de todos os povos, incluindo aqueles dos estados que agora tomam o seu lugar na civilização tecnológica presente, irão ser melhor servidos por formas de auto-governo inspiradas nos princípios da democracia liberal.
- Reiteramos a nossa crença, frequentemente repetida, que uma paz duradoura apenas pode ser assegurada através da liberdade, e que as políticas liberais a nível internacional devem ser orientadas com o objectivo de difundir a liberdade pelo mundo.
- Acreditamos na necessidade de prosseguir com a árdua tarefa, de atingir uma efectiva redução, controlada e equilibrada, de todos os armamentos. Até este objectivo ser alcançado, acreditamos que as nações livres devem cooperar para garantir protecção contra eventuais agressões convencionais ou nucleares.
- Acolhemos com satisfação todos os tipos de agrupamentos regionais, em todos os continentes, que baseados na cooperação mutua de sociedades livres, conduzam à fusão de nações soberanas. Relativamente a este ponto, o culminar de uma unidade Europeia, aberta a todas as nações democráticas Europeias, é um dever efectivo de todos os Europeus, de forma a que possam contribuir mais efectivamente para a paz, liberdade e bem estar mundial.
Finalmente, desejamos mais uma vez sublinhar, a nossa crença em como que a tarefa de liderar a revolução mundial para o benefício do homem é uma tarefa liberal. Isto requer tolerância e cooperação em liberdade. Exige uma consciência liberal das crescentes necessidades humanas, cuja sua satisfação é um imperativo, através de ideias liberais e iniciativas liberais Tal requer a existência de partidos liberais capazes de influenciar as políticas dos seus países de uma forma significativa.
Congratulamo-nos por isso, com as tentativas de reorientação e todos esforços de pressão que são visíveis nos países e movimentos não liberais, como uma indicação de que a necessidade de liberdade surge mesmo sob as circunstâncias mais difíceis. É nosso dever e a nossa vontade, fazer tudo o que nos for possível, para contribuir para esta evolução.